Fethullah Gülen e um Esboço de Seu Movimento

No cenário que descrevi até o momento, os muçulmanos praticantes conservadores da Turquia, que são acusados de serem reacionários, assim como Fethullah Gülen e o movimento que ele representa, não tiveram um papel negativo sequer. Ao contrário, com a performance e sucesso alcançados em olímpiadas internacionais de ciências e as honras recebidas em todos os ramos da ciência, as escolas abertas, na Turquia e no exterior, sob recomendação e encorajamento do Sr. Gülen, se tornaram representantes da Turquia no campo científico. De acordo com as observações de muitos colunistas da imprensa turca, os professores que trabalham nestas escolas, dentro da estrutura do entendimento de Fethullah Gülen, são exemplares, seja por seu bom caráter, nível de moralidade em seu comportamento ou valores humanos que carregam. Mais uma vez, aquelas escolas podem servir como uma função reparadora em face da erosão social e moral. Conforme expresso por oficiais de alto escalão e assinalado por Nevval Sevindi, um jornalista do jornal Yeni Yuzyil, a razão mais importante de o terror não ser proeminente na região de Van [Turquia] é a existência da Escola Secundária Serhat. O que significa que aquelas escolas podem compor um apoio nacional contra o terrorismo na Turquia. Além disso, independentemente das diferenças de raça, cor e religião, elas podem servir como uma ponte entre povos nos países onde se encontram e, desta forma, contribuir para a paz mundial, assim como para a rápida integração daqueles países com o mundo moderno.

Além das escolas, num momento em que o tecido social da Turquia se mostra danificado e há polarização entre linhas religiosas e étnicas e entre secularistas e antisecularistas, o clamor de Fethullah Gülen por tolerância e diálogo, sua reinterpretação do Islã e seus esforços para reconciliar correntes e opiniões diferentes, além das atividades da Fundação de Jornalistas e Escritores, da qual o Sr. Gülen é presidente honorário, podem evitar uma deterioração ainda maior do tecido social e, na verdade, pode servir para repará-lo.

O pedido de Fethullah Gülen por tolerância e diálogo em seus encontros com diversos líderes religiosos dentro e fora da Turquia, incluindo sua visita ao Papa, foram entusiasticamente recebidas por grande parte da mídia e intelectuais turcos. Por exemplo, o Professor Dr. Niyazi Oktem, que atualmente ensina na Faculdade de Ciências Políticas, na Universidade de Istambul, considera este um dos eventos mais importantes na história da Turquia moderna. Em uma entrevista dada a Mehmet Gundem, do jornal Zaman, em 11 de abril de 1998, ele comentou as atividades do Sr. Gülen sobre diálogo e tolerância: Do meu ponto de vista, não são apenas diferenças econômicas que estão por trás de conflitos e choques no mundo, mas, também, diferenças ideológicas e religiosas. Os conflitos causados por diferenças ideológicas se originam porque grupos opostos não se conhecem mutuamente. Por isso, eu considero os esforços do Sr. Gülen muito importantes, ele convida a todos a aceitarem o outro como ele é e respeitarem os pontos de vista e identidade uns dos outros. Sua inclusão de figuras internacionais neste pedido de diálogo significa muito para os muçulmanos, na Turquia. Especialmente nas circunstâncias atuais, em que muçulmanos e os governos turcos têm se mostrado tão sensíveis à questão dos estrangeiros e representantes de comunidades não-muçulmanas. Até o Sr. Gülen começar a se reunir com estes representantes, era incomum para um muçulmano se envolver em diálogos com cristãos ou judeus.

Ao responder à pergunta, “Algumas pessoas, na Turquia, apesar de poucas em número, especulam que o Sr. Gülen está em busca de poder. Você concorda?” O Sr. Oktem disse: Eu jamais poderia aceitar que um fenômeno social tão importante, o diálogo, fosse reduzido a algo explicável por teorias da conspiração. Não temos o direito de julgar ninguém segundo aquilo que produzimos em nossas imaginações. Discordância sobre uma ideia ou iniciativa não nos dá o direito de condená-la.

A opinião de outro intelectual turco, Hadi Uluengin, um colunista liberal que escreve para o jornal Hürriyet, também deve ser mencionada: Fethullah Gülen encontrou-se com o Papa e, assim, realizou uma reunião de alto nível em sua busca de diálogo e de respeito mútuo, que começou com uma reunião com os representantes da Igreja Ortodoxa e comunidades judaicas turcas, em um momento em que o Islã era descrito como uma ameaça e a teoria do conflito de civilizações de Huntington era largamente discutida. A visita do Sr. Gülen ao Vaticano é de importância histórica.

A existência do grupo de Fethullah Gülen é uma oportunidade para Turquia. É uma chance de pôr um fim às polarizações internas, de secularização de questões religiosas fundamentais e de abrir o país ao mundo lá fora. Algumas das dúvidas expressas a respeito deste grupo são infundadas e outras são de qualidade duvidosa ou insignificantes. Os pontos principais aos quais todos concordamos são aqueles em que secularistas, muçulmanos devotos e seguidores sinceros de outras religiões possam se unir. O uso de maoístas, que, na realidade, têm inclinações ‘fascistas’, em ataques deploráveis a este grupo mostra que Fethullah Gülen e seu grupo estão no caminho certo. (Hürriyet, 02/11/1998).

Que eu saiba, Fethullah Gülen não faz estes esforços para chamar atenção ou obter fama. Aqueles que o conhecem pessoalmente admitem que ele não tem interesse algum em fama. Apesar de algumas alegações contrárias, ele não busca nenhum interesse pessoal nestas atividades. Ao contrário, ele diz que não possui propriedades ou bens mundanos. Ele nunca participou, ativamente, na política em sua vida e, sempre, foi cuidadoso e reservado sobre atividades políticas. Não é possível encontrar nenhum sinal em seus escritos, conversas, discursos ou comportamento que tenham um objetivo político. Nem nunca houve indicação de que ele tenha tido a intenção ou ideia de estabelecer um estado religioso ou não-religioso. Em sua tese de mestrado em Ciência Política e Administração Pública, no Departamento de Ciência Política e Administração Pública da Universidade Bilkent, em Ankara, Berrin Koyuncu, após longa dissertação, conclui que: A reinterpretação do Islã por Fethullah Gülen constitui um apoio para consolidação da democracia na Turquia. Nesta conjuntura, as opiniões de Fethullah Gülen que têm maior peso são democracia, tolerância e ser um muçulmano na Turquia.

O encontro de Fethullah Gülen com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu de Fener Rum (Constantinopla) deveria ser apreciada por ser o prenúncio da tolerância e civilidade, pois foi o primeiro encontro do líder de uma comunidade civil com um líder religioso cristão após a proclamação da República. Fethullah Gülen argumenta que o mais importante para o bom funcionamento de uma sociedade é tolerância. Ele acrescenta que tolerância só pode ser alcançada com o amor pela ciência e pela humanidade.

Fethullah Gülen desenvolveu a noção de “ser um muçulmano na Turquia”. A contribuição deste conceito é que o Islã Anatólio, orientado para liberdade e pluralidade, se opõe aos islamistas que o idealizaram. Fethullah Gülen acredita que a Turquia nunca poderá ser como o Irã, com relação ao estabelecimento de um Estado Islâmico, porque a interpretação do Islã por iranianos e turcos são diferentes. Ele afirma que a cultura de uma nação tem um papel importante na reinterpretação do Islã... Ali Yasar Saribay, um professor de Ciências Políticas na Universidade Uludag de Bursa, argumenta que a ênfase de Fethullah Gülen na pluralidade em pontos em comum para o diálogo, sua guerra aos dogmas, sua rejeição a uma hostilidade inútil ao Ocidente constitui a base para uma intersecularização do Islã. [1]

As conclusões esboçadas por Berrin Koyuncu sobre o movimento do Sr. Gülen são compartilhados por Bülen Aras, palestrante convidado do Departamento sobre a Eurásia Central, na Universidade de Indiana. Em seu artigo, publicado na edição de setembro de 1998 da revista Middle East Quarterly, o Sr. Aras diz:

Gülen mostra que a maioria dos regulamentos islâmicos tratam da vida privada e apenas alguns deles falam sobre o estado e governo. Ele analisa as normas islâmicas que envolvem diretamente o governo à luz da realidade contemporânea. Isto o leva à conclusão, por exemplo, que a forma democrática de governo é a melhor escolha.

Gülen mantém que a interpretação e experiência do Islã do povo da Anatólia são diferentes de outros povos. Ele, frequentemente, enfatiza que deveria haver liberdade de religião e pensamento na Turquia. Ele propõe dois pontos chaves para garantir a paz em uma sociedade: tolerância e diálogo. “Podemos construir confiança e paz neste país se tratarmos uns aos outros com tolerância”. (Alistair Bell, “Turkish Islamic leader defies radical label” (Líder islâmico turco desafia rótulo radicalista) Reuters, 7 de agosto de 1995). Em sua opinião, “ninguém deveria condenar outro por ser membro de uma religião ou repreendê-lo por ser um ateu.” (The Turkish Daily News, 18 de fevereiro de 1995). Estas ideias sobre tolerância e diálogo não estão restritas a muçulmanos, mas se estendem a cristãos e judeus.

Sobre a questão das mulheres, Gülen tem visões progressistas. O uso do véu pelas mulheres é um detalhe no Islã e “ninguém pode reprimir o progresso das mulheres devido às roupas que elas precisam usar.” Gülen também afirma que “ninguém deveria estar sujeito a criticismo por causa de suas roupas e pensamentos.” (The Turkish Daily News, 18 de fevereiro de 1995). Além disso, ele diz, “mulheres podem ser administradoras,” contradizendo a opinião da maioria dos intelectuais islâmicos.

Gülen enfatiza uma educação secular e favorece uma integração com o mundo moderno. Ele apoia a tentativa da Turquia em se tornar membro da União Europeia e tem uma atitude moderada com relação ao Ocidente e à Israel. [2]

O Movimento Gülen nunca foi mencionado em conexão com hostilidade contra o governo, terrorismo interno ou outras atividades ilegais. Contudo, houveram tentativas de perseguição deste movimento sob o conceito indefinido de irtica (atividades reacionárias), dado que esta acusação não tinha uma base concreta, não foi aceita pelo público ou pela justiça.

Ao longo de sua vida, Fethullah Gülen sempre escolheu a ação positiva. Da mesma forma que ele nunca foi reacionário, nunca recorreu a comportamentos negativos ou destrutivos. De acordo com ele, a religião à qual ele é fiel e a linha de serviço aos outros que ele tem seguido exigem um comportamento construtivo e positivo. Ele prefere agir de acordo com os princípios de equilíbrio, amor, misericórdia, tolerância, bom relacionamento, diálogo e respeito. Ele age segundo a abordagem em que, “somos a vanguarda do amor; não temos tempo para hostilidade” e “mudos para aqueles que xingam e aleijados para aqueles que batem.” Em um mundo que ele vê sacudido por guerras, separação e conflito, seu objetivo é fazer com que a Turquia esteja em uma posição em que represente paz, tolerância, boas intenções e união, dentro e fora do país, e construa uma ponte universal em nome da paz entre indivíduos, segmentos diferentes da sociedade e entre indivíduos e países com visões de mundo e religiões diversas.


[1] Fethullah Gülen’s Views on Islam and Democracy (A Visão de Fethullah Gülen sobre Islã e Democracia), 1997, pp. 86-8.
[2] Middle East Quarterly (Oriente Médio Trimestral), setembro de 1998, Vol. V, No. 3, pp. 24-5.

FEVEREIRO 07, 2014

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